Avanços e desafios da saúde mental no DF são tema de debate no Hospital de Base

Na última quinta-feira (29), o auditório do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) foi palco de um importante debate sobre os rumos da Reforma Psiquiátrica no DF. O evento “Educa em Ação: Saúde Mental e Cuidado em Rede”, promovido pela Diretoria de Inovação, Ensino e Pesquisa (Diep) do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF), reuniu especialistas, profissionais da saúde e estudantes para refletir sobre os desafios e as estratégias para o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
A atividade, transmitida ao vivo pelo canal do IgesDF no YouTube, integra o calendário de ações da educação permanente da Diep e foi organizada em alusão ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado em 18 de maio.
Participaram da mesa-redonda o psiquiatra Sérgio Cabral Filho, chefe do Serviço de Psiquiatria do HBDF; a enfermeira Andressa de França Alves Ferrari, especialista em saúde mental, álcool e outras drogas; e a assistente social Cibele Maria de Sousa, referência na atenção primária.
Segundo Beatriz Souza Liarte, assistente social do Núcleo de Educação Permanente e organizadora do encontro, a proposta foi reunir diferentes perspectivas para uma reflexão coletiva. “O Educa em Ação visa discutir temas relevantes da assistência com foco na humanização e qualificação do cuidado. Pensamos em um evento que representasse as diversas pontas da RAPS, promovendo o diálogo entre profissionais com vivências complementares”, afirmou.
Durante sua fala, o psiquiatra Sérgio Cabral destacou o papel dos serviços de urgência e emergência na RAPS e a necessidade de descentralizar o cuidado. “A Reforma Psiquiátrica propõe romper com a lógica manicomial e integrar o cuidado em saúde mental aos serviços já existentes. Nosso trabalho é garantir que esse cuidado chegue às pessoas sem isolamento ou exclusão”, disse. Ele também apresentou os resultados de um projeto piloto implantado em 2024, no Núcleo Bandeirante, que levou atendimento psiquiátrico às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A iniciativa, segundo ele, reduziu transferências hospitalares desnecessárias e melhorou a resolutividade local.
Já a assistente social Cibele Maria de Sousa enfatizou a importância da escuta qualificada na atenção primária e criticou práticas que fragmentam o cuidado. “Muitas vezes o encaminhamento rápido ao Caps ocorre sem construção de vínculo. Isso impede um cuidado verdadeiramente integral. Precisamos conhecer os sujeitos do território, estar próximos da população”, afirmou, citando o desafio logístico enfrentado por famílias como exemplo da necessidade de redes locais mais acessíveis.
A enfermeira Andressa Ferrari reforçou a necessidade de um cuidado em liberdade e da atuação coletiva dos profissionais da saúde. “Construir uma rede centrada na pessoa é um movimento contra-hegemônico, que exige espaços de partilha e apoio mútuo. Só assim conseguimos atuar com ética e transformação”, defendeu.
O encontro, marcado pela diversidade de perspectivas e pelo compromisso com a humanização do cuidado, reforçou o papel da educação permanente como instrumento essencial para consolidar os princípios da Reforma Psiquiátrica e ampliar o acesso a uma saúde mental mais acolhedora, territorializada e livre de práticas excludentes.
Com informações do IgesDF