Brasília vive domingo de orgulho e resistência com Parada LGBT

Por Daniel Xavier
daniel.xavier@grupojb.com

Brasília amanheceu mais colorida nesse domingo, 6 de julho. A Esplanada dos Ministérios foi tomada por milhares de pessoas que participaram da Parada do Orgulho LGBT, encerrando com festa e mobilização o Festival Brasília Orgulho 2025. Com o tema “Juventude LGBT de periferia”, o evento reuniu música, cidadania e resistência política no coração da capital federal.

A concentração teve início às 14h, em frente ao Congresso Nacional, com o show do cantor Edson Cordeiro, interpretando clássicos da era disco. Em seguida, o cortejo tomou o Eixo Monumental com trios elétricos, blocos temáticos e performances. Entre as atrações confirmadas estavam MC Naninha, MC Carol, Grag Queen e Irmãs de Pau. A diversidade da marcha se refletiu também nos trios: um voltado à música eletrônica com DJs reconhecidos nacionalmente e outro protagonizado por indígenas LGBT.

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Foto: Daniel Xavier/ Jornal de Brasília

A parada seguiu pela via N1, passou pela Torre de TV e ocupou a S1 até a dispersão, por volta das 22h, em frente ao Museu da República. Uma das marcas mais potentes desta edição foi a instalação de 110 bandeiras arco-íris na Esplanada, numa ação inédita que integrou o projeto Cidade Orgulho, promovido pelo coletivo organizador, o Brasília Orgulho.

O amor vibrante

“Essa é minha terceira ou quarta vez aqui, e cada edição parece que melhora. Hoje tem mais trios, mais gente, e mais visibilidade. É isso que importa: mostrar que a gente ainda está aqui, que resiste. Vim com minha avó e meu primo — ela queria muito participar, então fiz questão de vir com ela”, contou Igor Lopes, 23 anos, morador do Riacho Fundo II. “Quero escutar muita música pop, MPB e estou animado para os shows da MC Carol e das Irmãs de Pau. A parada é resistência, mas também é festa”, completou.

A avó de Igor, Maria Rita Rodrigues Lopes, 61 anos, também falou sobre a emoção de participar. “É minha segunda vez aqui. Sou assexual não binária, e sempre me senti acolhida nesse espaço. Minha filha sempre me apoiou, e hoje eu tenho orgulho de estar com meus netos aqui. Essa parada representa um espaço seguro, de visibilidade e de amor verdadeiro.” Já Matheus, primo de Igor, participou pela primeira vez: “Sou hétero, mas vim por eles. Acho que não tem que ter separação — dá pra curtir com todo mundo. O que importa é o respeito. É importante mostrar que o evento é de todos que acreditam na liberdade.”

No sábado, o festival realizou também o Mercado Borboleta, feira de empreendedorismo, saúde e cidadania LGBT. O espaço contou com 40 expositores, oficinas, serviços de bem-estar físico e mental, além do Orgulho Pet, concurso de fantasias com prêmios de até R$ 2 mil para cachorros trajando os mais criativos looks arco-íris.

Resistência LGBT

A edição 2025 do Brasília Orgulho começou em 21 de junho e trouxe ainda campeonato esportivo, rodas de conversa sobre literatura, circuito gastronômico temático, festas e debates. Neste ano, o festival foi viabilizado com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF, da Secretaria de Justiça e Cidadania, da Secretaria de Turismo, além de parcerias com o Sindicato dos Bancários, o Shopping Boulevard e o coworking Akazo.

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Foto: Daniel Xavier/ Jornal de Brasília

Para Welton Trindade, representante do Brasília Orgulho, a edição deste ano marca uma virada de protagonismo. “A instalação das 110 bandeiras foi um gesto político e simbólico. Chamamos de ‘Nossa resposta. Nossa bandeira.’. É a nossa forma de dizer ao Congresso que não vamos nos calar enquanto não formos considerados cidadãos completos”, afirmou ao Jornal de Brasília.

Ele também ressaltou o foco na juventude LGBT da periferia: “Estamos em articulação com o Governo Federal para realizar uma pesquisa inédita sobre essa população no DF. Só com dados reais é possível construir políticas públicas efetivas”. Trindade aponta que ao organizar o ato de resistência, de forma geral, não tiveram de lidar com o desrespeito a direitos propriamente LGBT. “Mas tivemos que lidar com o preconceito de algumas empresas que não quiseram se aliar à comunidade LGBT”, destaca. Com bandeiras  erguidas, corpos livres e vozes firmes, a parada de 2025 reforçou o papel de Brasília como palco de luta e celebração da diversidade.

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