Conheça o projeto social que distribui kits escolares e transforma vidas

Idealizado pelo juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e professor de Direito Constitucional Aragonê Fernandes, o projeto social Sai Pobreza já beneficiou milhares de crianças desde que foi criado em 2019. Em 2025, o projeto atingiu a meta de atender 5,5 mil famílias com a distribuição de kits escolares completos e materiais de pintura voltados a crianças em situação de vulnerabilidade no Distrito Federal e em regiões do entorno.

Embora o momento mais intenso ocorra entre o fim de janeiro e o início do ano letivo, o projeto atua de forma contínua durante todo o ano, com campanhas de arrecadação, vendas de produtos e ações pontuais em comunidades. Uma dessas ações aconteceu no dia 17 de fevereiro, quando foram entregues kits a crianças indígenas venezuelanas da comunidade Café sem Troco. A iniciativa se concentra na entrega dos materiais no início do ano letivo, mas isso não impede que outras ações e arrecadações aconteçam ao longo do ano.

Kits escolares e acolhimento para vítimas de violência
Com a oficialização do Instituto Sai Pobreza em 2023, a iniciativa ganhou mais estrutura e escala. Além dos 5.100 kits escolares completos com mochila, estojo e materiais de qualidade entregues agora em 2025, o projeto também distribuiu 400 kits de pintura à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Os materiais são entregues às crianças vítimas de violência sexual durante a chamada oitiva especial. “É um momento extremamente delicado, e o material ajuda a tornar essa experiência um pouco menos traumática”, explica Aragonê, que atua na área criminal.

A seleção das crianças é feita em parceria com gestores das escolas públicas do DF, com base em um levantamento socioeconômico. As entregas contemplam alunos e alunas de Ceilândia, Sol Nascente, Brazlândia, 26 de Setembro, Itapoã e também de cidades do entorno, como municípios de Goiás e Minas Gerais. Uma professora da rede pública atua junto ao projeto para garantir que os kits tenham exatamente o que os alunos precisam ao longo do ano letivo.
“A gente gasta, em média, R$ 130 por criança. Poderíamos usar itens mais baratos e atingir mais gente, mas acreditamos que uma mochila bonita, um caderno de qualidade, um lápis que não quebra fácil fazem diferença para que a criança se sinta valorizada e goste de estudar”, afirma Aragonê. As mochilas e estojos são produzidos por costureiras locais, o que também gera renda para mulheres da região.

“Um gesto que virou um movimento”, diz diretora
A publicitária Elisa Alcântara, 43 anos, é uma das fundadoras do projeto e atualmente atua como diretora executiva do Instituto Sai Pobreza. A relação com o juiz Aragonê Fernandes começou em um curso preparatório para concursos, onde trabalharam juntos. Mais tarde, ele compartilhou com ela o desejo de criar um canal no YouTube para democratizar o acesso ao conhecimento e incentivar os estudantes.
“A ideia era simples, mas logo de cara eu já sabia que seria poderosa. Tive a oportunidade de assumir o marketing. Assim nasceu o canal Sai Pobreza”, conta Elisa.
Com o tempo, o engajamento com causas sociais se intensificou. “Foi durante uma ação na Ceilândia que percebemos uma dor invisível: crianças com sonhos, mas sem condições básicas. A influência do canal poderia ser usada para algo maior, um movimento com impacto real”, relembra.

Segundo ela, o projeto nasceu como um gesto singelo e virou um símbolo de transformação. “Mais do que ajudar a criar o instituto, eu vi de perto como ele mudou vidas — inclusive a minha”, afirma. Elisa acredita que não é possível ser indiferente à realidade de tantas crianças em situação de vulnerabilidade. “Você já viu os olhos de uma criança cheia de sonhos, mas sem as mínimas condições para alcançá-los? Algo em mim virou uma chave desde o início”, diz. “Entendi que minha habilidade com marketing era essencial para o projeto crescer, mas também que meu coração precisava estar entregue: com meu tempo, minha energia, minhas orações e minha ação.”
Trabalho voluntário e arrecadações o ano inteiro

Todo o trabalho é feito de forma voluntária, sem nenhum tipo de apoio governamental. A equipe mais próxima do instituto é composta por cinco pessoas, entre elas a presidente Lara, professora da rede pública, e Elisa Alcântara. “Eu apareço mais porque tudo começou comigo. Mas não posso exercer cargo de presidência por causa das limitações da magistratura”, explica o juíz.
As arrecadações ocorrem ao longo do ano, por meio de vendas da loja social do projeto e também por doações espontâneas. “Eu autografo os livros em casa mesmo. Todo o lucro vai direto para o instituto”, diz. Além disso, há um site oficial — www.saipobreza.com.br — com todas as informações, produtos à venda e formas de colaborar.
Quem quiser ajudar pode fazer doações de qualquer valor, via PIX para o CNPJ 41.416.656/0001-77 (Transforma Cursos LTDA). O projeto também aceita doações recorrentes, com valores sugeridos de R$ 10, R$ 25 ou R$ 45 mensais.
Mesmo que as entregas se concentrem no mês de fevereiro, a necessidade de arrecadação é constante, já que os materiais escolares são adquiridos em grande parte entre março e junho, período de promoções. As mochilas e estojos também são confeccionados por costureiras ao longo do ano, com pagamentos mensais.
Para Aragonê, que teve uma infância humilde em Brasília, o estudo foi o instrumento que mudou sua trajetória. “Fui criado em Ceilândia, enfrentei muitas dificuldades e venci graças à educação. Por isso, acredito que ela é o motor de transformação do nosso país. É nela que invisto e é por meio dela que quero devolver à sociedade tudo o que conquistei”, afirma.