Iniciativa criada por estudantes transforma a escola em espaço de escuta, acolhimento e cuidado emocional.

CARLIANE GOMES 
redacao@grupojbr.com 

 

O projeto “Gerando Amor” tem oferecido apoio à saúde mental de estudantes do Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga (Cemeit). Criada por educadores sociais voluntários, a iniciativa promove rodas de conversa, palestras e atividades afetivas que incentivam o diálogo sobre emoções e criam um ambiente acolhedor dentro da escola.

 

A ideia surgiu em setembro de 2018, após uma notícia que abalou a comunidade escolar. Na época, Vitória Kalil, hoje coordenadora do projeto, era estudante da instituição. “Recebemos a informação de que uma aluna havia tirado a própria vida. No fim, descobrimos que ela era de outra escola, mas mesmo assim, o caso nos impactou profundamente, porque poderia ter sido alguém da nossa turma”, relembra. Diante da comoção, um grupo de estudantes decidiu agir. Eles começaram a organizar atividades que abordassem a saúde mental e o bem-estar dos colegas.

“Quando a gente fala sobre saúde mental, na verdade, reconhece que, em algum momento da vida, como seres humanos, somos vulneráveis em várias áreas. Falar disso é falar do nosso dia a dia, da nossa vida. E para os alunos, isso surte muito efeito, porque à medida que a gente abraça, também é abraçado. À medida que cura, também é curado”, diz Vitória.

A participação nas atividades é voluntária e aberta a todos os estudantes tanto os do ensino médio regular quanto os da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no turno da noite. As ações são divulgadas com antecedência, e os interessados se inscrevem espontaneamente. “Quem sente a necessidade, participa. Quem quiser ouvir, vai. O projeto é feito com liberdade, empatia e escuta”, completa.

 

Nome com significado

 

O nome “Gerando Amor” também carrega uma história simbólica. Segundo Lyandra Campos, educadora social e uma das coordenadoras, o projeto começou a ser desenhado com o nome GEDES, sigla para Grupo de Enfrentamento à Depressão e ao Suicídio. “No início, ficamos em dúvida sobre como chamar. GEDES era mais direto, mas também mais pesado”, explica. Foi então que surgiu o bordão “Gerando Amor”, que acabou se tornando a marca afetiva do grupo. “Acho que esse nome resume muito bem a essência do que fazemos aqui. É mais leve, mais bonito e transmite exatamente a proposta do projeto: acolher com amor”, diz Lyandra.

 

O principal objetivo da iniciativa é transformar a escola em um espaço verdadeiramente acolhedor para os estudantes. A proposta vai além do conteúdo das aulas e busca oferecer suporte emocional aos jovens, que muitas vezes carregam dores e conflitos internos para dentro da sala de aula. “Muitos adolescentes chegam aqui trazendo mais do que cadernos e livros. Eles vêm com problemas pessoais, situações difíceis que, às vezes, não têm com quem compartilhar”, explica a coordenadora. O projeto oferece aquilo que, em muitos casos, não é encontrado em casa: escuta, acolhimento e afeto. Lyandra reforça que outro ponto central é a quebra de tabus. Falar sobre saúde mental nas escolas ainda é um desafio, muitas vezes restrito ao mês de setembro, durante as campanhas do Setembro Amarelo. “A saúde emocional precisa ser pautada o ano inteiro. A escola pode e deve ser um lugar de apoio”, defende. A mensagem que o grupo tenta reforçar é clara: os estudantes não estão sozinhos, e pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. “Queremos mostrar que há caminhos, há suporte, e que cuidar de si é possível e necessário.”

 

Daniel, 16 anos, aluno do 1º ano do ensino médio, começou a participar do projeto logo após ingressar na escola neste ano. Para ele, as rodas de conversa são o ponto alto da iniciativa. “Acho muito importante, porque ajuda muitas pessoas. As rodas são muito acolhedoras. É um projeto bonito”, afirma. Segundo o estudante, os encontros têm temas que dialogam diretamente com o cotidiano dos jovens. “A última foi sobre autoestima, sobre como não viver no automático, ter senso de presença. Foi muito bom.” Mesmo sendo novo na escola, Daniel já recomenda a experiência a outros colegas. “Recomendo que todos participem. É muito legal e ajuda em muitas coisas”, diz, com entusiasmo.

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