Intenção de compra das famílias no DF recua após três meses de alta

Vitor Ventura
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) do Distrito Federal diminuiu no mês de agosto. Esse índice mede a disposição das famílias para consumir no curto prazo. No geral, a Intenção de Consumo das Famílias no DF diminuiu após três meses de alta, saindo de 106 pontos, em julho, para 104,8 em agosto. Apesar da queda, a intenção de consumo segue acima da média nacional, que é de 102,5.
A pesquisa do ICF é um indicador com capacidade de medir, com a maior precisão possível, a avaliação que os consumidores fazem sobre aspectos importantes da condição de vida de sua família. Ela verifica itens como itens como a capacidade de consumo (atual e de curto prazo); o nível de renda doméstico; a segurança no emprego; e a qualidade de consumo, presente e futuro. Com isso, os resultados da pesquisa medem o grau de satisfação e insatisfação dos consumidores, em que o índice abaixo de 100 pontos indica percepção de insatisfação, enquanto acima de 100 (com limite de 200 pontos) indica satisfação.
Paulo Henrique, enfermeiro de 29 anos, passeava com a esposa e o bebê no Shopping do Gama. Ao Jornal de Brasília, ele afirmou que o poder de compra ao longo do tempo tem diminuído. “Produtos eletrônicos, por exemplo, que são coisas que eu costumo buscar bastante tiveram um aumento de preço considerável”, avaliou Paulo. O enfermeiro também relatou que entre gastar em um consumo mais voltado para a família e poupar dinheiro, a segunda opção quase sempre prevalece. “Eu gosto sempre de guardar uma certa quantidade de dinheiro para ficar um pouco mais confortável e até para imprevistos. Isso também afeta a questão do consumo. Se as coisas estivessem mais em conta, a gente iria preferir investir em alguma coisa em vez de ficar poupando dinheiro”, destacou.
Para José Aparecido Freire, presidente do Sistema Fecomércio no DF, uma série de questões pode explicar a maior cautela dos brasilienses no consumo em agosto. “Ainda convivemos com juros elevados, inflação e um cenário de endividamento que atinge boa parte da população, sobretudo no cartão de crédito. Esse contexto gera insegurança, limita a capacidade de compra e acaba refletindo nos indicadores”, apontou Freire.
Maria Couto, viúva de 50 anos, também reforçou que o gasto precisa ser controlado em casa. “Eu vou muito a shoppings aqui no DF, mas ultimamente eu não estou indo muito para comprar. Estou achando os preços bem salgados”, contou Maria. Para ela, mesmo em comércios de rua, como feiras, a situação não anima muito. “A gente tem comprado bem menos. Na maioria das vezes vai mais o básico mesmo, arroz, feijão, carne, itens como esses”, relatou Maria.
De acordo com Freire, outro ponto importante é o crédito. “O acesso ao crédito também continua sendo um desafio, pois a dificuldade em obter financiamento impacta diretamente a confiança do consumidor e, consequentemente, seu apetite por novas compras”, avaliou o presidente do Fecomércio.
Queda em agosto
Conforme apontam a CNC e o Fecomércio-DF, o ICF registrou retração de -1,1% em agosto, já descontados os efeitos sazonais, após três meses consecutivos de crescimento. A queda atingiu sete dos oito itens da pesquisa, tanto na comparação mensal quanto na anual. Com isso, o índice geral chegou a 104,8 em agosto, menor resultado desde novembro de 2024.
Na variação mensal, apenas o item renda atual avançou (0,2%). Todos os demais apresentaram retração, com destaque para momento para aquisição de bens duráveis (-5,8%) e perspectiva profissional (-4,5%). Também caíram o nível de consumo atual (-2,9%), o acesso ao crédito (-1,5%), o emprego atual (-0,6%) e a perspectiva de consumo (-0,6%).
Mesmo com a queda, entre os sete subindicadores, quatro ainda estão em nível de satisfação (acima de 100 pontos): emprego atual (139,8), renda atual (140,0), perspectiva profissional (111,0) e perspectiva de consumo (118,0). Os demais ficaram abaixo desse patamar.
Apesar da queda, o ICF-DF segue acima da média nacional. Em agosto, as curvas se aproximaram, com 104,8 pontos no DF contra 102,5 no Brasil, menor diferença desde novembro de 2024. A análise da série histórica mostra relativa estabilidade no índice nos últimos quatro meses, oscilando entre 103,2 e 103,6 pontos. Esse desempenho é sustentado pelas famílias com renda acima de 10 salários-mínimos (117,0 pontos), bem acima do nível de satisfação. Já entre os que recebem até 10 salários, o índice caiu para 97,4 pontos, abaixo do patamar considerado positivo.
Para Freire, é possível vislumbrar uma melhora novamente se houver avanço em alguns pontos fundamentais: “A redução gradual dos juros, o controle mais efetivo da inflação, o fortalecimento do emprego e a reorganização das finanças familiares, com menor inadimplência, são condições essenciais para que o consumo volte a ganhar fôlego”, concluiu o presidente do Fecomércio-DF.