Larissa Nakabayashi: “me sinto uma carpa que nada contra a correnteza”

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Escrita por Isadora Carmona

Informações coletadas por Ana Clara Mendonça, Anna Greg, Ana Luisa Oliveira, Davi Moisés e Laura Cunha

Aos 27 anos, Larissa Nakabayashi Rossy Langamer transformou a dor em combustível para a natação profissional. Ela tem deficiência Visual, se prepara para alcançar o sonho de disputar uma Paralimpíada e sua trajetória é marcada por muita superação e muita luta.

Entre obstáculos, dúvidas e críticas, Larissa encontrou no esporte a razão para seguir sonhando alto. Hoje, cada braçada representa mais que treinamento: é um ato de resistência.

“Eu faço essa alusão porque realmente, eu me sinto uma carpa. A carpa é um peixe que tem uma lenda japonesa que diz que elas nadam contra a correnteza. E eu trago comigo essa resiliência.”

Começo


Larissa começou a nadar após terminar o ensino médio. “Eu passei por um período de ociosidade… Eu entrei em depressão e eu vi o esporte como um meio de cuidar da saúde mental. Eu queria me recuperar, sair do fundo do poço”

O primeiro contato com a natação aconteceu aos 8 anos, por recomendação médica para tratar um problema respiratório. Na mesma época, Larissa também descobria sua deficiência visual – que começou a se manifestar aos 6 anos. Aos 9, diante do pré-diagnóstico, além dos treinos, precisou lidar com o estranhamento de colegas e professores.

“Eu estava naquela descoberta de ser uma criança com deficiência visual. Então, muitas vezes eu tinha que explicar para as pessoas que eu não enxergava. Na época eu treinava por lazer e por saúde, mas tinha que passar por bullying porque as crianças mostram os dedos e ficavam perguntando quantos dedos tinham ali.”

Depois de experimentar esportes como goalball e o kung fu, a natação voltou à sua vida já na fase adulta, quando a visão estava ainda mais comprometida. “O destino me traz a natação de novo. Por isso que eu disse que a natação me escolheu”. Ela lamenta não ter começado na infância a prática do esporte.

Entre o concurso público e o esporte


Antes de abraçar o esporte como profissão, Larissa sonhava com estabilidade. “Eu queria ser servidora pública, dentro do Senado ou da Câmara. Eu sempre fui de sonhar muito alto e correr atrás para que isso seja alcançado. Como eu estava focada em concurso, eu entrei na natação com foco de recuperar a saúde mental.”

A natação, porém, foi ganhando espaço cada vez maior no coração de Larissa. Em apenas 1 ano e 3 meses de treino, Larissa conquistou o terceiro lugar no ranking nacional. “A partir disso, eu vi que esse era o meu caminho”. Sentiu que estava brilhando com menos de dois anos de atividade. “Entendi que esse era meu caminho”.

A rotina de treinos em alto rendimento, porém, a levou a uma encruzilhada: seguir estudando ou se dedicar ao esporte. “Eu tive que escolher deixar os estudos de lado. Então, parei de estudar para o concurso e foquei no esporte. Eu sou uma pessoa que precisa extravasar energia corporal… e o esporte me atendeu com isso. Às vezes em que estou com raiva ou estressada, eu explodo na piscina — e é quando eu tenho os melhores resultados.”

O sonho do concurso foi substituído pelo sonho da Paralimpíada. “Se eu posso me tornar parte de 1% do mundo, eu vou tentar isso.” Para isso, abriu mão dos estudos, de um investimento de R$ 7 mil em cursos e enfrentou críticas de quem não entendia sua escolha. “Ter que escutar que parar de estudar era desperdício foi macabro. Mas eu estou sempre nadando contra a correnteza.”

Confiança

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Larissa e Marcus Lima, seu treinador | Foto: divulgação no instagram @naka.swimmer


O treinador Marcus Lima entrou na vida de Larissa por intermédio de um conhecido em comum. Ela conta que, desde o começo, Marcus já via nela uma atleta completa, mesmo que ela mesma ainda não se reconhecesse dessa forma.

Com apenas oito meses de treino, Larissa participou da primeira competição. “Por incrível que pareça, na primeira competição, eu fui porque ele falou: ‘você tem que competir’. […] Eu estava no balizamento já para outra prova e anunciaram que eu tinha ficado em segundo lugar. Então eu peguei prata numa competição que eu nem imaginava que poderia pegar medalha.”

A confiança cresceu com os anos. “No início de tudo, realmente, ele acreditava mais em mim do que eu mesma, eu acho que isso foi assim, é um divisor de águas. Talvez no início, se ele não tivesse me empurrado e me puxado falando assim: ‘Ó, você vai estar em tal Paralimpíada’, eu não teria seguido.”

Disciplina, dor e resiliência


A rotina de alto rendimento é intensa. Lesões e problemas de saúde também fizeram parte do caminho. “No ano passado, eu enfrentei uma hérnia de disco. Nesse ano descobri que sou atópica… perdi a audição do ouvido direito porque tive o tímpano perfurado. Eu chorei, cheguei a chorar, porque eu queria estar treinando e não podia.”

Vendeu doces no metrô


No início, a rotina de treinos gerou embates em casa. “Meus pais achavam que eu tava treinando demais e que eu precisava descansar um pouco. Esse foi o momento em que eu precisei mostrar para eles que era isso que eu tinha que fazer, porque eu queria uma bolsa, eu precisava subir no pódio — só o terceiro lugar para mim não era suficiente.”

Com o tempo, o apoio se consolidou, sobretudo no aspecto financeiro. “Minha mãe me ajudou demais fazendo doces porque no início eu não tinha condições de ir para uma competição. Eu saía vendendo na rodoviária, no metrô, no shopping. E aí sim eu pagava as viagens.”

A ajuda materna foi fundamental. “Nos bastidores, o apoio da família é essencial, é essencial.”


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