Presidente da CBF ocultou imóveis da Justiça Eleitoral

GUILHERME SETO E RANIER BRAGON
FOLHAPRESS

Samir Xaud, recém-eleito presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), ocultou da Justiça Eleitoral a posse de dois imóveis em sua candidatura a deputado estadual por Roraima em 2018.

O cartola declarou na ocasião R$ 200 mil em bens, que se resumiam a três carros e uma motocicleta, mas registros cartoriais de Boa Vista mostram que, à época, ele tinha dois imóveis conjuntamente com sua esposa, Natália Xaud.

O artigo 350 do Código Eleitoral define como crime “omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais”. A pena é de até cinco anos de prisão e multa.

Procurada pela reportagem, a confederação negou qualquer ilegalidade referente à declaração dos imóveis. A assessoria de comunicação da CBF enviou à reportagem certidões do Tribunal Superior Eleitoral que mostram que não existem pendências de Xaud com a Justiça Eleitoral.

Em nota, a entidade esportiva acrescentou que não há qualquer irregularidade relacionada ao cartola. Ele não respondeu ao contato feito pela reportagem.

Xaud, 41, foi escolhido para o cargo no domingo (25), em votação marcada pelo boicote de clubes da elite do futebol nacional, como protesto pela força das federações estaduais na decisão do pleito. Ele assumiu o comando no lugar de Ednaldo Rodrigues, afastado da cadeira de presidente no último dia 15.
O novo presidente da CBF tentou se eleger deputado em duas eleições, mas não teve sucesso em nenhuma delas.

Em 2018, foi candidato a deputado estadual pelo PV e recebeu 2.069 votos. Quatro anos depois em 2022, fez uma nova tentativa, desta vez para deputado federal pelo MDB, e recebeu 4.816.

Com essa segunda votação, ele se tornou suplente e ficou a 3.427 votos do candidato menos votado que conseguiu se eleger, Pastor Diniz (União Brasil), que teve 8.243.

Um dos imóveis omitidos por Xaud em sua campanha de 2018 é uma casa de 583 metros quadrados e no bairro Mecejana, em Boa Vista. Segundo a matrícula, o casal a comprou em outubro de 2013, por R$ 240 mil, e a vendeu em setembro de 2021, por R$ 456,9 mil, para a empresa Garden Park Incorporações.

O outro imóvel omitido em 2018 aparece na declaração da campanha de 2022 de Xaud, quando ele apresentou à Justiça Eleitoral um patrimônio menor do que quatro anos antes, de R$ 162 mil em bens, divididos entre essa casa (R$ 132 mil) e um carro (R$ 30 mil).

Segundo a matrícula, o imóvel foi adquirido pelo casal em 2007 por meio de permuta com Sanderson Xaud, irmão de Samir, que quatro anos antes o havia comprado dos pais, José “Zeca” Gama Xaud e Ilma Xaud.

Zeca é presidente da Federação Roraimense de Futebol quase ininterruptamente desde 1974, e Ilma foi secretária de Educação da Prefeitura de Boa Vista (1997-2001) e do Governo de Roraima (2004-2007).
A área total do terreno é de 587 metros quadrados, localizado no loteamento Parque Cauamé, no bairro Paraviana.

O imóvel não aparece na declaração de bens de 2018 de Xaud, ainda que tenha sido adquirido em 2007 e apareça na declaração de 2022, dessa vez com a observação de que se encontrava “judicializado”.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Xaud foi alvo de ao menos cinco ações trabalhistas em Roraima e teve bens bloqueados, inclusive esses dois imóveis.

As ações tramitaram principalmente em 2016 e 2017 e resultaram no pagamento pelo atual presidente da CBF, mediante acordo, de ao menos R$ 24 mil. Com isso, os imóveis foram liberados.

As dívidas se referiam a atrasos nos salários, falta de pagamento dos valores proporcionais de rescisão (como férias e 13º salário), falta de recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e retenção das carteiras de trabalho por parte de uma loja de imóveis da qual ele era sócio, a Difratelli Móveis.

Em nota na qual se manifestou sobre esses processos, ele disse que “desconhece qualquer processo trabalhista em que tenha descumprido obrigações legais ou decisões judiciais” e que “sempre atuou de forma regular, tanto na esfera pública quanto privada, cumprindo integralmente seus deveres legais, fiscais e trabalhistas”.

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