Resgate aéreo do Corpo de Bombeiros salva vidas em menos de 20 minutos no DF

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Entre janeiro e junho de 2025, o serviço aeromédico do Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) atendeu 356 ocorrências, com tempo médio de resposta de 17,7 minutos. Em cerca de 66% dos casos, o socorro chegou em menos de 20 minutos.

O serviço aeromédico dispõe atualmente de três helicópteros e dois aviões adaptados para atendimento, além de contar com 14 médicos. Todos os operadores de suporte médico, grupo formado por médicos e enfermeiros, passam por treinamento específico para garantir cuidados intensivos imediatos. A tripulação também é composta por piloto, copiloto e tripulante operacional. E as aeronaves são equipadas com todos os dispositivos necessários para atendimentos críticos.

O drama vivido por Téo Zanello Brixi ilustra o quanto a rapidez no socorro pode ser determinante em situações críticas. Com apenas 1 ano e 9 meses, Téo sobreviveu a um afogamento graças à resposta rápida do resgate aéreo. Luísa Zanello, 35, mãe da criança que em breve completará 7 anos, relembra o dia do afogamento do filho. Ela conta que tudo aconteceu muito rápido. Quando viu o garoto na piscina, roxo e sem respirar, agiu instintivamente e pulou para resgatá-lo. Ainda molhada, correu para ligar para os bombeiros. “Eu nem sabia meu nome naquela hora. Só pensei em pedir ajuda”, lembra. O atendimento foi praticamente imediato.

Enquanto os socorristas atendiam Téo, Luísa foi orientada a procurar um local onde o helicóptero pudesse pousar. Era época de pandemia, poucas casas atenderam, mas os bombeiros decidiram que pousariam na própria rua da casa: “Tudo aconteceu em minutos. Vieram os bombeiros, depois o Samu, e o helicóptero pousou”.

Ela lembra que, após cerca de 40 minutos de manobras de ressuscitação, os bombeiros conseguiram identificar um pulso. “Quando perguntaram quantos anos ele tinha e minha irmã respondeu que faria 2 anos, o bombeiro disse: ‘Pode deixar que ele vai fazer 2 anos’”, conta, emocionada.

Para a enfermeira de voo do Samu, Mônica Ortolan, o atendimento do Téo foi um caso que a marcou profundamente. A equipe conseguiu pousar com tranquilidade, pois a área era ampla e permitia manobras seguras. Eles já sabiam do que se tratava e embarcaram com todos os equipamentos adequados.

Teo foi levado ao Hospital de Base com o pai, acompanhado pelo médico e pela equipe que estava no helicóptero. Ao chegar, foi direto para a sala vermelha e, pouco depois, encaminhado à UTI. Luísa foi avisada de que o estado dele era gravíssimo e a criança poderia ter sequelas. Quando foi extubado, Teo reconheceu a mãe. Esse foi o primeiro grande sinal de que o pior havia passado. 

Luísa é categórica ao dizer que a resposta rápida fez toda a diferença: “Se qualquer parte disso tivesse sido diferente, talvez não tivesse dado certo”. Ela destaca a precisão dos bombeiros, a chegada em poucos minutos, o transporte aéreo, o atendimento do médico no local e o encaminhamento imediato ao hospital: “Foi tudo no tempo certo. Foram muitas peças que se encaixaram perfeitamente”.

Mônica chegou a visitar Téo no hospital, poucos dias depois do resgate, e se emocionou ao vê-lo sentado na cama, se recuperando. “Hoje, ele está bem, sabe da história e ainda guarda o bolachão do Samu que dei para ele”, conta. Recentemente, reencontrou Téo no hangar onde ele aprendeu a identificar os tipos de aeronaves: “Tudo isso faz parte da construção do saber dele. É lindo ver esse reencontro com a vida”.

Renascimento

Victor Fonseca, 36, nasceu duas vezes: a primeira vez foi em Brasília e a segunda, no asfalto da estrada para a Chapada dos Veadeiros, após sobreviver a um acidente que quase tirou sua vida. No dia 6 de setembro de 2023, enquanto seguia de moto para o Parque Nacional goiano, um carro fez uma conversão errada e acabou se chocando violentamente contra o veículo. “Fui esmagado. Tive um politrauma grave, mais de 16 fraturas. A única chance de sobrevivência era a aeronave”, lembra.

Por sorte, um bombeiro do DF que estava de folga passava pelo local e prestou os primeiros socorros: “Ele já tinha oxímetro, torniquete, atadura… Todo o material. Foi ele quem acionou o resgate”. A resposta foi rápida e a equipe do Corpo de Bombeiros chegou de helicóptero em São João d’Aliança. “Perdi mais de 80% do sangue do corpo”, revela Victor.

Ele conta que, no momento do acidente, achou que não escaparia. “Quando ouvi uma voz dizendo que era do Corpo de Bombeiros, foi como se acendesse uma luz. Ali, eu pensei: tem chance”, recorda. Para ele, a atuação rápida e precisa da equipe foi determinante para sobreviver. “Sem helicóptero, não teria dado tempo”, acredita.

A rapidez do atendimento e a atuação do bombeiro fora de serviço foram essenciais para a vida de Victor. O médico Pierre Novais, do CBMDF, participou do resgate e relata que, na chegada ao Hospital de Base, o caso foi considerado muito complexo: “Foi um trauma fechado, que é ainda mais grave, e ele sobreviveu. A literatura médica mostra que apenas 1% dos pacientes sobrevivem a esse tipo de lesão”.

Hoje, Victor encara o acidente como uma segunda chance: “Digo que nasci de novo no dia 6 de setembro de 2023. Vou fazer 37 anos agora e nesses quase dois anos vivi mais do que nos 35 anteriores. Mudei completamente: na cabeça, na fé, na família, em tudo. Antes, eu tinha uma vida boa, mas hoje sou mais feliz, mais grato. Não troco nada disso. Essa é a minha história”.

Estatísticas

Das 356 ocorrências registradas de janeiro a junho deste ano, 278 resultaram em atendimento efetivo e 78 foram canceladas, principalmente por óbito no local, sendo que as regiões com maior número de acionamentos foram Plano Piloto, Ceilândia e São Sebastião. A faixa etária mais atendida foi de 60 a 70 anos, seguida por pacientes com mais de 80 anos e, em terceiro, por vítimas com idade entre 70 a 80 anos. Do total, o sexo masculino representou cerca de 65%. O Hospital de Base foi o principal destino dos pacientes, seguido pelo Hospital Regional da Asa Norte (Hran). 

A principal natureza dos atendimentos foi a parada cardiorespiratória. A taxa de retorno à circulação espontânea (RCE) foi de quase 30%, com 67 pacientes reanimados apenas com manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP). Esse índice está alinhado à média global de 29,7% em paradas extra-hospitalares, segundo meta-análise internacional.

O médico Pierre Novais, do Serviço Aeromédico, explica que a taxa de RCE – ou seja, quando o coração volta a bater após uma parada cardíaca – é um dos indicadores mais importantes de sucesso do atendimento. “Fazemos isso com manobras de ressuscitação cardiopulmonar. Comparando com os dados mundiais, percebemos que estamos relativamente bem. Cerca de 30% dos pacientes com parada cardíaca clínica voltam à circulação espontânea com o auxílio do socorro, e isso nos orgulha muito”, destacou. Já nos casos de trauma, o índice é bem menor: em torno de 10% têm retorno à circulação, mas apenas de 1% a 2% têm alta hospitalar.

Nos casos em que foi necessário o uso do desfibrilador, a taxa de RCE subiu para 38,6%. De acordo com o relatório do CBMDF de ocorrências atendidas pelo serviço aeromédico, esse resultado está dentro da faixa superior dos índices internacionais, que ficam entre 25% a 40%, o que significa que, a cada 2,6 pacientes desfibrilados, um teve a circulação restabelecida.

Ele reforça a importância da parceria com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e destaca que, em muitas situações, uma viatura terrestre disponível numa região administrativa pode ser até mais rápida do que o transporte aéreo. Essa integração entre Bombeiros Militares e profissionais do Samu-DF, é uma parceria que completa 15 anos em 2025.

Com informações da Agência Brasília


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